26.7.10

Arte pensada


Experiências em escolas mostram que atividades artísticas podem ser utilizadas para melhorar o aprendizado

Rafael Andrade/Folhapress
Crianças participam de atividades promovidas pela ONG Casa da Arte de Educar


ANTÔNIO GOIS
DO RIO

Atividades artísticas, em muitas escolas, até hoje são vistas como meramente recreativas. Algumas experiências em colégios públicos e privados mostram, no entanto, que elas podem ser também ferramentas valiosas de melhoraria do aprendizado.
Evelyn Ioschpe, diretora da Fundação Iochpe, que organiza o prêmio Arte na Escola, diz que não há pesquisas no Brasil que investiguem a relação entre o ensino de artes e o desempenho em disciplinas tradicionais.
"Mas temos hoje quantidade suficiente de pesquisas internacionais que indicam que a arte efetivamente tem impacto no ensino de língua e matemática."
Ela cita, como exemplo, um estudo realizado pelo museu Guggenheim, de Nova York, com alunos de escolas públicas que participam de um projeto da instituição e registraram melhorias em testes de linguagem.
Num contexto em que várias escolas estavam cortando aulas de arte para privilegiar o ensino de linguagem e matemática em Nova York, o trabalho foi usado para defender a permanência dessas atividades no currículo.
Segundo Evelyn, os estudos mostram que, mesmo quando a aula de artes acontece de forma isolada numa escola, há ganhos. Mas o ideal, diz ela, é que o trabalho seja interdisciplinar.
O problema é que muitas escolas no Brasil não estão ainda preparadas para atuar assim, pois isso exige que o professor de arte tenha tempo para encontrar os colegas de outras áreas para discutir abordagens em conjunto.
A coordenadora de artes da escola Castanheiras, em Tamboré (Grande SP), Tatiana Fecchio, acrescenta que, além de tempo, é preciso criatividade para integrar as aulas de arte com as demais.
Ela cita o exemplo de um trabalho desenvolvido com alunos que estavam discutindo o registro científico em aulas de ciências.
"Propusemos então que eles desenvolvessem uma atividade com cebolas, fazendo um desenho com a preocupação científica de descrever um objeto, e depois um desenho artístico abstrato. Isto resultou numa exposição cujo objetivo era confrontar duas formas de registro distintas."

NOVAS LEIS
O debate sobre como utilizar a arte como ferramenta pedagógica se intensifica com a proximidade do fim do prazo de três anos dado pela lei 11.769, de 2008, para incluir música no currículo.
Além disso, neste mês o presidente Lula sancionou lei que reforça a obrigação do ensino da arte na educação básica, com ênfase especial em expressões regionais.
No entanto, para Eugenio Figueroa, diretor de arte e educação da Casa Daros, entidade que organizou há dois anos um seminário sobre arte e analfabetismo funcional, não será por força de uma lei que as escolas desenvolverão bons projetos na área.
"A escola precisa menos de um professor de arte como disciplina e mais de docentes que estimulem a curiosidade e o espírito de criação em cada criança. O mais interessante é mergulhar na prática artística, entendida como um processo de pesquisa permanente", afirma.


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